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Nesse texto está formulada a noção de Deus; se essa noção se refere a uma realidade, essa é uma questão subsequente a ser tratada posteriormente. Primeiro, se há um ato irrestrito de compreensão, há também um inteligível primário, pois o ato irrestrito de compreensão compreende a si próprio. Segundo, devido ao ato ser irrestrito, não há possibilidade de correção, revisão ou melhora, e assim o ato irrestrito de compreensão é invulnerável. Mais ainda, já que ele compreende a si mesmo, ele sabe que é irrestrito e invulnerável. Consequentemente, por identidade, ele é um ato refletivo de compreensão percebendo-se a si mesmo como incondicional e portanto correto e verdadeiro; e assim, por identidade, o inteligível primário também é a verdade primeira. Terceiro, o que é conhecido como compreensão correta e verdadeira é o ser; então o inteligível primário é também o ser primário; e o ser primário é espiritual no sentido total da identidade do intelecto e do inteligível. Quarto, o ser primário seria sem defeito, sem faltas ou imperfeições, pois se houvesse algum defeito ou falta ou imperfeição, o ato irrestrito de compreensão perceberia o que estaria faltando. Mas essa conclusão é impossível, logo a premissa é falsa. Pois o ser primário é idêntico com o ato irrestrito, e assim a percepção do que estaria faltando no ser primário seria uma percepção de limitação do ato irrestrito. Quinto, o bem é idêntico ao ser inteligível, e assim o ser inteligível primário, perfeito e completo também é o bem primário. Sexto, como a perfeição espiritual requer que o inteligível também seja inteligente, assim também ele requer que a verdade afirmável seja afirmada e o bem amável seja amado. Mas o inteligível primário também é a verdade primária e o bem primário; e assim em um ser espiritual perfeito e completo o inteligível primário é idêntico não apenas ao ato irrestrito de compreensão mas também ao ato completo e perfeito de afirmação da verdade primária e ao ato perfeito e completo de amar o bem primário. Adicionalmente, o ato de afirmar não é um segundo ato distinto do ato irrestrito de compreensão, nem o ato de amar seria um terceiro ato distinto da compreensão e da afirmação. Por que se fosse, então o ser primário seria incompleto e imperfeito e necessitado de atos adicionais de afirmação e amor para ser completado e aperfeiçoado. Assim, a realidade única e idêntica é de uma só vez o ato de compreensào irrestrita e o inteligível primário, a compreensão reflexiva e incondicional, a afirmação perfeita e a verdade primária, o amar perfeito e o bem primário. Sétimo, o inteligível primário é auto-evidente. Porque se não fosse, ele seria incompleto em inteligibilidade; e nós já demonstramos que todo defeito ou falta ou imperfeição é incompatível com o ato irrestrito de compreensão. Oitavo, o ser primário é incondicional. Pois o ser primário é idêntico ao inteligível primário; e o inteligível primário deve ser incondicional, pois se dependesse de alguma outra coisa, não seria auto-evidente. Finalmente, é impossível para o inteligível primário ser completamente independente e o ser primário, idêntico àquele, ser dependente de alguma outra coisa. Nono, o ser primário ou é necessário ou impossível. Ele não pode ser contingente, já que o contingente não é auto-evidente. Portanto, se ele existe, ele existe por necessidade e sem quaisquer condições; e se não existe, então é impossível, pois não há condição da qual ele resultaria. Mas a questão de se existe ou não é uma questão que não pertence à idéia de ser ou à noção de Deus. Décimo, há apenas um ser primário. Pois entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem, e não há necessidade de mais de um. Adicionalmente, se houvesse mais de um ser primário, então cada um seria ou não idêntico a um ato irrestrito de compreensão. Senão, então os inteligíveis idênticos aos atos de compreensão irrestrita seriam seres primários. Se fosse assim, haveria vários seres primários similares em todos os aspectos; pois atos de compreensão irrestrita não podem perceber objetos diferentes sem que um ou mais atos deixem de perceber o que os demais percebem e assim deixam de ser atos irrestritos. Mas não pode haver vários seres primários similares em todos os aspectos, pois então eles difeririam meramente de forma empírica; e o meramente empírico não é auto-evidente. Assim, só pode haver um ser primário. Em décimo-primeiro lugar, o ser primário é simples. Pois o ser rpimário é um único ato que de uma só vez é compreensão irrestrita e afirmação perfeita e amor perfeito; e é idêntico ao inteligível primário e à verdade primária e ao bem primário. Ele não admite a composição de formas centrais e conjugadas pois não há outros seres da mesma ordem com os quais seria conjugado; e como é um único ato, ele não precisa de uma forma central unificadora. Nem ele admite a composição de potência e forma. Pois é um ser espiritual além de todo o desenvolvimento, e a potência foi identificada ou com a capacidade de desenvolver ou com resíduo e materialidade empíricas. Nem ele admite a composição de forma e atos distintos pois se ele existe, existe necessariamente. Adicionalmente, se o inteligível primário e o ser primário e o bem primário forem nomeados forma ou essência, e o ato de afirmação, amor e compreensão irrestrita forem nomeados como ato ou existência ou ocorrência, ainda eles não serão distintos, mas serão idênticos. Em décimo-segundo lugar, o ser primário é atemporal. Ele é sem tempo contínuo pois é espiritual e o tempo contínuo pressupõe resíduo e materialidade empíricas. E é sem tempo ordinal pois ele não se desenvolve. No décimo-terceiro lugar, se o ser primário existe, ele é eterno. Pois é sem tempo e a eternidade é existência atemporal. Contudo, além do inteligível primário, há que se considerar os inteligíveis secundários; pois o ato irrestrito de compreensão, além de compreender a si mesmo, também percebe tudo sobre todas as outras coisas. No décimo-quarto lugar, então, os inteligíveis secundários são condicionais. Pois eles são o que poder ser compreendido se o inteligível primário for compreendido. Assim se segue que eles são distintos do inteligível primário, pois são condicionais e ele é incondicional. Ainda, apesar de que os inteligíveis secundários são distinos to primário, eles não são realidades distintas. Pois conhecer não consiste em olhar uma coisa e assim, apesar dos inteligíveis secundários serem conhecidos, eles não precisam ser algo a ser olhado. Adicionalmente, o ser primário é sem nenhuma falta ou defeito ou imperfeição; mas seria imperfeito se realidades adicionais fossem necessárias para o ato irrestrito de compreensão ser irrestrito. Finalmente, os inteligíveis secundários podem ser meros objetos de pensamento. Pois eles são percebidos como distintos do inteligível primário, e no entanto eles não precisam ser realidades distintas. Assim, a infinidade de inteiros positivos é percebida por nós na percepção que é o princípio gerador das relações e dos termos da série. Marcadores: cristianismo, Deus postado por Fernando às 9:35 PM Tweet |
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