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Entre o fim do banimento de Chatterley E o primeiro LP dos Beatles." Mas ainda, mesmo que hábitos permissivos tenham se espalhado rapidamente pela sociedade, quebrando tabus e uniões conjugais, as pessoas ainda tinham sensibilidade para distinguir entre arte e pornografia, e não havia objeções às leis que proibiam imagens de sexo explícito. Como muitas distinções intuitivamente óbvias, a diferença que existe entre o erótico e a pornografia não é fácil de explicar. Se diz que a pornografia é obscena, enquanto a arte erótica é meramente sugestiva. Mas o que é obscenidade ? O teste mais antigo definido pelo Ato de Publicações Obscenas de 1959 e 1964 (EUA) diz que alguma obra é obscena se tende a depravar e corromper aqueles que a virem. Mas esse teste é questionável, já que procura a obscenidade apenas nos efeitos de uma obra e não na obra em si. Mais do que isso, os júris não são nada competentes para prever os efeitos de se assistir um filme ou ler uma novela, e são facilimente convencidos por aqueles que apresentam a pornografia como uma "válvula de escape" saudável para sentimentos que poderiam explodir de maneiras mais perigosas. O fato é que o desejo de assistir cenas explícitas de cobiça carnal é em si depravado. Não é que os filmes explícitos tenham tendência de corromper: eles são a própria corrupção. Na esfera sexual, essa corrupção consiste na exibição do apetite sexual separado dos relacionamentos que o redimem. Justificar vídeos pornográficos alegando que eles não tornam as pessoas piores é como justificar o combate entre gladiadores alegando que ele não transforma as pessoas em assassinos. O que estava errado no circo romano é precisamente que ele incentivava as pessoas a assistí-lo. O mesmo acontece com a pornografia. Um trabalho de arte erótica como o 'Maja Desnuda' de Goya não é obsceno. O modelo de Goya não é exibido como um corpo feminino oferecendo seus favores em um estado de desejo impessoal. Ela é mostrada como uma pessoa, que poderia oferecer seus favores, mas que deve ser abordada com o devido respeito. Imaginar seus abraços é também imaginar seu amor. Não há nada indecente ou doentio nisso, nada demais do que imaginar o amor entre Romeu e Julieta. O propósito da arte erótica não é aumentar o desejo impessoal, mas nos levar a simpatizar com uma paixão sexual que é direcionada de uma pessoa para a outra, e que é redimida pelo relacionamento que existe entre elas. Claro que se você pensar que nos relacionamentos sexuais nada existe além do prazer, e que tudo que acontece entre dois adultos é moralmente aceitável, então não vai enxergar nada de errado com a pornografia. E se você pensa dessa maneira, vai ficar difícil entender o valor enorme que as pessoas dão ao amor sexual, o papel central que ele desempenha em nossas vidas, ou o medo e alarme com que se vê sua profanação. Vai deixar de entender os tormentos do ciúme, a alegria do amor retribuído, ou os sacrifícios feitos por pura fidelidade. Vai ficar difícil explicar o porquê do estupro ser um crime mais sério do que o roubo, o porquê da pedofilia ser perversa, o porquê do assédio sexual ser mais do que um incômodo e o porquê da prostituição ser degradante. Não vai ver o fato crucial do sexo: que ele não é apenas uma função animal mas uma escolha existencial, que envolve liberdade, personalidade e ideais morais para aquele que o pratica. Nós gostaríamos que as crianças fossem protegidas da obscenidade e da cobiça dos adultos porque acreditamos que elas não estão prontas para o sexo - mesmo quando já são capazes de praticá-lo. Esse conceito de "estar pronto" demonstra que nós não aceitamos a visão que a indústria da pornografia quer nos impingir, de que o sexo não é algo mais sério do que fazer cócegas. Ao contrário, nós sabemos que o sexo é a coisa mais séria que fazemos, uma coisa que pesa muito nas emoções. O sexo prematuro é um sexo imaturo; e sexo imaturo é o que a pornografia oferece - sexo sem o comedimento do amor adulto. E uma vez que as pessoas contraem o hábito do sexo imaturo, elas ficam imaturas. Nessas pessoas, a capacidade de amar é sacrificada, e com ela, a esperança de um consolo duradouro e verdadeiro. Quando o sexo é desmoralizado - como é feito na pornografia - ele cessa de ser uma força interpessoal em volta da qual nossas vidas se congregam. As pessoas que experimentam o sexo dessa maneira, portanto, ficam à deriva, de um relacionamento para o outro, ao mesmo tempo que continuam intimamente solitárias. E você só pode fazer isso, é claro, apenas se for sexualmente atraente. Para a maioria dos viciados em pornografia, as cenas que ela exibe são substitutos das aventuras sexuais, e causa neles uma fantasia masturbatória, sendo que a fonte mais importante de sentimento generoso é voltada para o próprio indivíduo e se atrofia. Nós não devemos fingir que a liberação sexual dos anos 60 não aconteceu. No entanto, há uma linha divisória entre tolerância e indecência, e que deve ser traçada claramente e defendida legalmente. Nos EUA, a pornografia é protegida por lei, como uma liberdade constitucional. O resultado é que temos uma cultura na qual a licença e o litígio sexual florecem lado a lado. Mulheres suspeitam cada vez mais dos homens e ficam dispostas a processá-los em juízo ao menor vislumbre de abuso e assédio. Quando os homens começam a ver o sexo do jeito que a pornografia encoraja, as mulheres ficam sem sua arma mais importante: elas não podem mais se caracterizar como um ser precioso, já que sua sexualidade foi roubada e exibida na tela e no papel, como uma mercadoria impessoal. Essa redução da sexualidade para um produto de consumo coloca em risco muitas das coisas que dão a uma mulher a confiança em seus sentimentos sexuais: amor, compromisso, casamento e um pai responsável para seus filhos. A fúria do feminismo norte-americano transparece um consciência de que a sexualidade feminina foi subtraída de seu objetivo natural e realização social. O resultado disso, como qualquer um que passou por uma universidade sabe, foi o colapso de confiança entre os sexos. Jovens são ensinadas que o sexo não é diferente do chocolate ou da maconha: uma forma de lazer rápido que é aceitável se o seu metabolismo agüentar. Ao mesmo tempo, elas aprendem que os homens são todos "estupradores", e que ele não têm disposição de receber a mulher como um ser querido, já que podem obter seus favores à força ou por enganação. O ódio resultante aos homens é também um medo deles - mais que tudo, um medo de da atitude de desmerecimento da sexualidade feminina, que transforma qualquer mulher em uma espécie de máquina hidráulica e que assume um "direito" de posse sem o dever de tratar carinhosamente. E certamente não é por acaso que o aumento da pornografia coincide com o alarme da população contra a pedofilia. Ambas são ataques à inocência. Ambas causam a demolição do processo pelo qual o sentimento sexual se acumula até ser liberado como amor. Ambas substituem o desejo erótico - o desejo pelo outro como um indivíduo - e põe em troca uma "cócegas" generalizada. A pornografia e a pedofilia são formas de desmoralização do ato sexual. De fato, a pornografia é a maneira mais efetiva de recrutar crianças para o mundo da cobiça, e é parte do repertório padrão dos pedófilos. Ao mesmo tempo, a tirania da visão liberal do mundo é tamanha, que as pessoas ficam relutantes em dizer que a pornografia é danosa aos adultos da mesma maneira a pedofilia é danosa às crianças. Tendo chegado tão longe no caminho da tolerância, as pessoas pensam: como resistir ao próximo estágio? O que as pessoas devem reconhecer, contudo, é que a pornografia é em si um problema. Deveríamos deplorar que as pessoas sejam encorajadas a assistir sexo como um mero espectador de esportes, sem nenhum envolvimento para os participantes. FONTE: The Sunday Telegraph (jornal britânico) 21/maio/2000 Marcadores: assédio sexual, brasil, cavalheirismo, conservadorismo, cristianismo, erotismo, feminismo, pedofilia, pornografia, sexo, sociedade postado por Fernando às 10:22 PM Tweet |
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